A lenda da Iara, ou Mãe d'Água, é uma narrativa envolvente no folclore brasileiro, especialmente na Região Norte. Descrevendo uma sereia de beleza única, metade mulher, metade peixe, a Iara reside no fundo dos rios, atraindo homens com sua voz encantadora e promessas de riqueza. No entanto, essa lenda, embora profundamente associada à cultura indígena, tem raízes europeias, trazidas possivelmente durante o período de colonização.
Na tradição indígena, a Iara é apresentada como a filha de um pajé, destacando-se como uma habilidosa guerreira. Sua história toma um rumo dramático quando, vítima da inveja de seus irmãos, ela os enfrenta em uma luta, emergindo como a única sobrevivente. Em seguida, seu pai a castiga, lançando-a nas águas dos rios Negro e Solimões, onde ela é salva pelos peixes, assumindo sua forma singular. No idioma tupi, o termo “Iara” significa “senhora das águas”.
A origem europeia da lenda é apontada por estudiosos, como o folclorista Luís da Câmara Cascudo, que observa semelhanças com as sereias gregas e portuguesas. A associação com figuras míticas portuguesas, como as mouras encantadas, que seduziam homens com promessas de riqueza, e a crença nas sereias, contribuiu para a formação da lenda da Iara no Brasil.
Além disso, há sugestões de influências da cultura africana, especialmente na relação da Iara com a Iemanjá. Essa complexidade revela uma trama mitológica rica, formada pela fusão de diferentes lendas e tradições. A Iara, com sua dualidade entre beleza sedutora e tragédia, continua a cativar a imaginação e a contar a história fascinante da interseção cultural no Brasil.